sábado, 10 de agosto de 2013

Jorge de Sena

ODE À INCOMPREENSÃO

De todas estas palavras não ficará, bem sei,
um eco para depois da morte
que as disse vagarosamente pela minha boca.
Tudo quanto sonhei, quanto pensei, sofri,
ou nem sonhei ou nem pensei
ou apenas sofri de não ter sofrido tanto
como aterradamente esperara -
nenhum eco haverá de outras canções
não ditas, guardadas nos corações
alheios, ecoando abscônditas ao sopro do poeta.
Não por mim. Por mim tudo o que, para ecoar-se,
não encontrou eco. Por tudo o que,
para ecoar ficou silencioso, imóvel -
- isso me dói como de ausência a música
não tocada, não ouvida, o ritmo suspenso,
eminente, destinado, isso me dói
dolorosamente, amargamente, na distância
do saber tão claro, da visão tão lúcida,
que para tão longe afasta o compassado ardor
das vibrações do sangue pelos corpos próximos.
(…)
Tão longe, meu amor, tão longe
quem de tão longe alguma vez regressa?!
(…)

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