quarta-feira, 28 de julho de 2010

Um grito em forma de livro: Pergunta ao Pó, John Fante


O que nos é narrado em Pergunta ao Pó não se resume a um relato das privações sentidas por um jovem a braços com o desejo de se afirmar enquanto escritor. O registo humorístico alterna com passagens de uma ternura impressionante, a capacidade de convocar situações que permitem traçar o essencial de uma personalidade hesitante, tão cruel quão apaixonada, permitem-nos formular uma imagem de Fante a partir da caricatura que acaba por ser Arturo Bandini. É neste contexto que o amor sentido por Camilla Lopez, uma empregada de café de origem mexicana, nos situa num lugar de desolação que tem por fundo a paisagem do deserto de Mojave. O termo da história é de uma comoção sem limites. A imagem de Bandini a lançar um exemplar do seu primeiro romance na direcção que a amada em fuga havia tomado faz-nos pensar numa espécie de conflito presente em toda a obra: um conflito, nem sempre claro, entre o acto de escrever e o sentimento de amar.

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